A Batalha de Adwa – Etiópia resiste ao colonialismo europeu (1895)

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A Etiópia, junto com a Libéria, foi um dos únicos dois Estados que conseguiram resistir ao colonialismo europeu na África da passagem das últimas décadas de século XIX ao começo do século XX. Um Estado antigo e organizado, reestruturado sob a coroa de Yohannes, o Império Etíope foi capaz de resistir militarmente e expulsar os italianos e suas pretensões colonialistas. O grande desfecho do conflito se deu na Batalha de Adwa.

africacolonialOs europeus foram durante séculos incapazes de adentrar o interior da África: o continente era conhecido pela alcunha de túmulo do homem branco. Acometidos por doenças, trapaças e ataques dos povos nativos, os europeus logo desistiram de tentar avançar terra a dentro, e se limitavam a contatos e trocas comerciais nas regiões costeiras. Ao longo de mais de três séculos eles alimentaram o comércio de escravos na costa ocidental, que fornecia braços para o plantation nas Américas e estimulava o comércio triangular e a acumulação de capital comercial. Foi só no fim do século XIX, auxiliados por recentes avanços na tecnologia militar, que os europeus iniciaram sua corrida colonial, oficializada na “partilha da África”, negociada na Conferência de Berlim em 1885.

As potências dominantes eram a Inglaterra e a França, com seus domínios na África austral e do norte, respectivamente. Além deles, disputavam os territórios portugueses, italianos, espanhóis, belgas e alemães. O interesse dos europeus na África era multiplo, não se restringindo a questões comerciais, embora a historiografia tradicionalmente interprete o colonialismo em termos de busca de matérias-primas, mercados consumidores e espaços para investimento de capitais excedentes do pujante capitalismo industrial europeu. Seja como for, todos queriam um pedaço do bolo. Articuladas graças a séculos de negociações e práticas diplomáticas no âmbito da Sociedade Internacional Europeia, as potências europeias souberam dividiram para dominar, resolvendo suas controvérsias de forma negociada, sem prejudicar o avanço coletivo, ainda que cada uma mantivesse lógica e interesses próprios.

O imperador Menelik IINa Etiópia, os italianos se aproximaram inicialmente como amigos. Travaram acordos com o rei Menelik II, que viria a se tornar imperador após a morte de seu predecessor, Yohannes. De forma um tanto traiçoeira, os italianos travaram um tratado em que faziam da Etiópia seu protetorado, sem que isso ficasse claro na versão escrita em Etíope. Logo os governantes europeus se recusaram a tratar com representantes do governo etíope, uma vez que este estava sob poder dos italianos. Menelik pensava diferente.

O imperador se pronunciou radicalmente contra a interpretação italiana e denunciou o tratado. Com uma hábil diplomacia, conseguiu grandes quantidades de armamentos junto aos ingleses e franceses. Governante de um Estado razoavelmente centralizado, Menelik era capaz de mobilizar contingentes militares sem correspondência no continente à época. Mais de 100 mil homens, 82 mil fuzis e 28 canhões. Em resposta às posições dos Europeus declarou: “A Etiópia não precisa de ninguém; ela estende as mãos para Deus”. O ano era 1894.

Os italianos reagiram com a força, e Menelik moveu suas tropas. Após vencer uma série de batalhas, ajudadas pelos eritreus,  beneficiadas pela superioridade numérica, e auxiliadas por um destacamento de cossacos do império russo, as tropas etíopes empurraram os invasores para a batalha final em Adwa . Os italianos comandavam 17 mil homens, grande parte deles eritreus. Ignoravam o terreno em que se moviam, estavam em menor número, pouco motivados e mal armados. Menelik tinha ao seu lado o grande comandante Ras Alula, além de outros comandantes e um conselheiro russo, N. S. Leontiev. Além da artilharia e da infantaria armada de fuzis, tinha  ainda cavaleiros armados com lanças.

Após desacertados movimentos noturnos em terreno montanhoso, as tropas italianas sofreram um ataque etíope nas primeiras horas da manhã. Espalhados e desorientados, foram destroçados numa vitória praticamente total das tropas de Menelik. 7 mil mortos, 1,5 mil feridos e 3 mil capturados, toda a artilharia perdida mais cerca de 11 mil rifles. Na Itália explodiram uma série de manifestações populares violentas nas ruas, resultando na queda do primeiro-ministro Crispi.

Após a batalha foi assinado o tratado de Addis Abeba, que anulava o tratado anterior, e garantia a independência e soberania territorial da coroa etíope. Os vencedores obtiveram grande prestígio entre as potências europeias, que mandaram representações diplomáticas, e entre intelectuais negros da África e das Américas, que visitariam o país diversas vezes nos anos subsequentes. Nos anos seguintes o país passaria por uma série de reformas modernizantes e veria fundada sua nova capital Adis Abeba, “Flor Nova” na língua Etíope.

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A vitória na Batalha de Adwa ficou marcada na história africana como a mais poderosa resposta à agressão colonial europeia, um símbolo da força e do orgulho dos povos nativos do continente. Sua memória se manteria por muito tempo, com grande influência sobre o pensamento pan-africanista de meados do século XX. Um grande exemplo é o rastafarianismo, movimento religioso jamaicano conhecido mundialmente graças às músicas de Bob Marley, que presta reverências à Haile Selassie, ou Ras Tafari, imperador da Etiopia, o último sucessor de Menelik no trono do Império, de 1930 a 1970.

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